A POLÍTICA, A TEORIA DO CAOS E O MOVIMENTO BROWNIANO
por Sylvio Eugênio Araujo Medeiros
O mito grego da criação do mundo afirma que “No princípio era o Caos, o Vazio primordial, vasto abismo insondável, como um imenso mar, denso e profundo, onde nada podia existir”. Bilhões de anos mais tarde, vê-se que continuamos lidando com o caos, com o vazio e com a dificuldade que temos para evitarmos cair em abismos insondáveis, tal que tudo continue existindo e progredindo. Ocorre que o progresso é democrático: é da natureza que tudo evolua, ainda que não linearmente. Ou seja, o caos também pode evoluir, assim como nossos esforços em evitá-lo, transformando nossa sociedade em um sistema complexo e dinâmico, com resultados instáveis.
A teoria do caos, surgida a partir de estudos do século XIX sobre sistemas dinâmicos não-lineares, demonstra como diversos elementos que agem conjuntamente e de forma iterativa, ou seja, repetidamente, mas também de modo aleatório, acabam por gerar resultados determinados, ainda que instáveis. O que a teoria do caos prova é que a causa da instabilidade é a geração de perturbações e ruídos, ainda que microscópicos, amplificados pelo número de iterações entre os fatores, de modo a que o resultado seja efetivamente aleatório. Ou seja, o caos pode ser determinado.
É o que se constata na prática, quando vemos a forma como vem sendo conduzida a política natalense de oposição à Prefeita Micarla de Sousa. Temos uma sociedade complexa e dinâmica, na qual grupos vêm, propositalmente, gerando ruídos e perturbações, de forma atomizada, mas incessantemente repetida, com o objetivo específico de determinar que o caos se instale na cidade. Esta estratégia tem várias técnicas. Uma delas, a de gerar factóides constantes e publicá-los em mídias sociais e outros meios tradicionais de comunicação, que Nicolau Maquiavel já havia identificado em seu livro “O Príncipe”, quando afirma que uma mentira dita repetidamente acaba se tornando uma verdade, faz parte de um contexto maior: o de permitir que grupos menores manipulem o destino de toda uma cidade, a partir de suas intenções e objetivos particulares.
A física moderna também tem uma explicação para este fenômeno. Curiosa e ironicamente, chama-se “Efeito Borboleta”. Nada poderia ser mais adequado do que o nome desta teoria apresentada pelo matemático Edward Lorenz, em 1963. O efeito borboleta está intrinsecamente ligado ao processo de realimentação de um ruído, de modo sistemático e repetitivo, até que o ruído seja a amplificado de tal modo que o resultado seja caótico. O nome de efeito borboleta vem da noção que um ruído simples como o da oscilação de ar causada pelo bater de asas de uma borboleta pode ser amplificado nos modelos estatísticos e iterativos de previsão do tempo, tal que se transforme em uma tempestade no outro lado do planeta.
É exatamente assim que temos visto acontecer a promoção do caos na cidade de Natal. Um caos determinado, planejado e executado de tal forma que pareça real, que se transforme em um inconsciente coletivo, em nome da inércia de interesses consolidados e bem arraigados na sociedade. Uma guerra de informações, mais assemelhada a um filme dos anos 60, mas com requintes da modernidade possibilitada pelo alcance nem tão democrático assim das mídias ditas sociais, travada em nome da consolidação de uma imagem caótica da atual gestão.
A questão principal é a gestão tem se deixado vencer nesta luta de imagens. Há um outro preceito físico, o Movimento Browniano, também ligado à teoria do caos e ao efeito borboleta, que também ajuda a entender o processo social através do qual pequenos grupos manipulam interesses maiores. O movimento browniano é aquele realizado aleatoriamente por partículas maiores, em decorrência do choque com partículas muito menores. Talvez fique mais claro o seu entendimento se imaginarmos, por exemplo, um enorme balão de ar jogado de mão em mão, durante a realização de um show em um campo lotado em um estádio. Individualmente, cada mão é bem menor do que o balão, mas consegue alterar seu curso através de um soco, ou um tapa. Como cada mão atinge o balão diferentemente, o movimento percorrido pelo balão, quando visto de cima, acaba parecendo aleatório. Este é o movimento browniano. Ele explica que, mesmo em condições desproporcionais de tamanho e força, pequenos golpes de partículas menores podem tornar aleatória a rota de um grande corpo.
Assim vem sendo afetada a imagem da gestão Micarla, responsável por planejar e executar os serviços que beneficiam mais de 800 mil pessoas em Natal. Não obstante a Prefeita ter investido pesadamente e bem mais do que seus antecessores em educação, saúde e assistência social, resgatado a dignidade do servidor público, ampliado a coleta de lixo e estar transformando a mobilidade a partir das obras da Copa, tudo isto enfrentando as mesmas dificuldades que qualquer gestor sempre enfrentou, a imagem da sua administração vem se deixando conduzir de forma passiva, a partir de intervenções menores, movendo-se aleatoriamente. Ocorre que há um padrão por detrás deste movimento aleatório, explicado pela geometria fractal, que mostra como um objeto pode ser dividido em partes semelhantes ao original, fracionado, gerado por um padrão repetido, recorrente e iterativo. O objeto final é um “fractal”. É no que vem sendo transformada a imagem da gestão atual: um conjunto de pequenas prefeituras, secretarias insulares, onde a força das partes é menor que a do todo. Este deliberado enfraquecimento da unidade da gestão é exatamente parte do caos determinado que vem sendo promovido pelos mesmos que geram os ruídos repetitivos que são realimentados pela mídia.
Se antes não era possível entender o sistema, agora ele torna-se claro. Se antes não era visível o processo, agora ele está à mostra. A quem interessa a promoção do caos, do vazio e da idéia de que a cidade caiu em um abismo insondável? Não cabe a uma gestão, ter medo de ser governo, mas sim a coragem de orgulhar-se do trabalho que vem sendo feito, por milhares de mãos, para que tudo continue existindo e progredindo. O caos não é uma entidade abstrata: ele é a imprevisibilidade aleatória de resultados. Mas os resultados existem e não foram tão aleatórios, ao ponto de serem caóticos. O que fazer então? Esta é a reflexão que cada gestor, cada líder deve fazer, para que se possa evitar o que de pior pode acontecer a uma cidade: a mistura de política, teoria do caos e movimento browniano.